JOG D’PALAVRA. Campeonato Nacional de Futebol Feminino/23. Cinco equipas, quatro regiões! 5, 4? Yaaa, no mês da Copa das trinta e duas

21 Julho de 2023

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Por Benvindo Neves

Nos próximos 10 dias muito se vai falar do futebol feminino em Cabo Verde. O campeonato Nacional começa esta sexta-feira, em São Vicente, com cinco equipas em prova. Cinco? Yaaa, só cinco(!) de apenas 4 regiões: Sal (coloca duas equipas por ter a campeã nacional), São Vicente, Santiago Sul e Santiago Norte. Isto quer dizer que das 11 regiões desportivas de Cabo Verde, nem metade realizou os respetivos campeonatos regionais.

Bem, na verdade, ao longo dos anos o número não tem variado tanto. Mais uma, menos uma, a média de equipas participantes na prova tem andado à volta de seis. E não deixa de ser estranha esta míngua. Sobretudo nos dias de hoje em que há todo um contexto favorável que, se calhar, não se verificava há uns 10 ou 15 anos.

Senão vejamos:
A nível da Federação, constituiu-se, há já alguns anos, um pelouro do futebol feminino. 
Desde 2018 que se criou a Seleção Nacional e que tem vindo a competir com relativa regularidade, no país e na nossa sub-região africana, quer em partidas amigáveis, quer em provas oficiais da CAF.
No ano passado, Cabo Verde disputou em casa (no Sal), o Torneio da UFOA-A, tendo chegado à final. O estádio Marcelo Leitão esteve praticamente cheio nos jogos da Equipa Nacional.

Fruto dessa presença constante em provas da UFOA-A, a seleção feminina entrou, pela primeira vez, no ranking da FIFA. Foi em março deste ano. Primeira dos PALOP e quarta da zona UFOA A, ditou o ranking.

É cada vez mais frequente a transferência de jogadoras cabo-verdianas para o futebol europeu, nomeadamente para Portugal.

Outros contextos favoráveis:
O futebol feminino está na moda a nível mundial e, por conta da cada vez mais acérrima luta pela igualdade e equidade de género, as federações de vários países, sobretudo da Europa (Países Baixos, França, Espanha, Alemanha…) têm dado sinais muito claros de rompimento com as discrepâncias em relação ao futebol masculino. A federação dos Países Baixos, por exemplo, já garante pagamentos iguais para Futebol Masculino e Feminino.

Se antes os jogos de futebol das senhoras normalmente aconteciam em campos alternativos e com público reduzido, hoje em dia a coisa muda de figura. E noticia-se a toda a hora por este mundo fora quebras de recordes de assistências em estádios. Em março do ano passado, um jogo em Camp Nou entre Barcelona e Real Madrid, a contar para a liga dos campeões de futebol feminino, registou uma assistência de 91.553 espetadores!

Enfim, são alguns poucos factos só para ilustrar a forma como o futebol feminino está a incrementar-se, estando já bastante longe do que era em tempos relativamente recentes.
Com tudo isso, então como se explica que em Cabo Verde, quando se olha para as competições internas, se nota que ainda se está muito abaixo da dinâmica que, com maior ou menor dificuldade, se verifica no masculino?

Logo um país que, nos centros urbanos, tem mais mulheres do que homens? Quase 183 mil para pouco mais de 181 mil, de acordo com os dados do INE, 2021.

O problema - argumentarão uns - é que estamos num país marcadamente machista, onde as diferenças entre homens e mulheres ainda são enormes. Outros defenderão que a questão de fundo está nas associações regionais que ainda olham para o futebol feminino como coisa menor.

Focando nesta segunda leitura, não será tudo uma questão de sensibilidade? Neste ponto, surge uma outra pergunta: quem se lembra de uma associação regional presidida por uma mulher? As 11 associações têm sido dirigidas exclusivamente por homens. Ladies, bsot dá speed! Senão, na maioria das regiões, vão continuar a esperar até que acabem todas as competições masculinas para se lembrar que vocês também jogam. E depois já nem haverá tempo, tudo terá de ser feito riba joelho!

Algumas figuras do futebol feminino em Cabo Verde, com particular destaque para a Lúcia Moniz  têm sido críticas em relação à postura alegadamente discriminatória das associações (kês k sons). E a (minha) comunicação social também às vezes apanha.

Voltando ao Campeonato Nacional de Futebol feminino 2023. Coincidência ou não, a competição estava prevista para arrancar exatamente no mesmo dia em que, na distante Oceania, começava a Copa do Mundo de Futebol Feminino.

A coincidência parecia feliz e bonitinha! Mas, lá está: houve uma espécie de invasão de campo por parte da Bestfly e, por conta disso, o pontapé de saída teve de ser adiado em 24 horas. Estragou-se o sincronismo, do primeiro dia. Mas, a partir desta sexta-feira, as duas competições estão a acontecer em simultâneo. O nosso acaba dentro de 10 dias. O deles, só daqui a um mês. 

E porque o Mundial da Austrália e Nova Zelândia conta com um número recorde de 32 países, quem sabe sirva de inspiração para que as próximas edições do campeonato nacional de futebol feminino venham a ter números recorde de 10, 11, ou mesmo de 12 equipas! Como acontece há muitos anos no campeonato masculino.

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